10.26.2007

Uma escola especial na Suécia

Desta vez na Suécia (não tenho parado, estou farto de aeroportos e aviões), visitei o Tensta gymnasium (visita esta organizada por Goran Karlsson do KTH, parceiro sueco do projecto DICSIM) e posso dizer que foi uma das escolas mais interessantes em que já estive. Esta escola é parceira da Ross School, adoptando o conceito Ross, uma escola no estado de New York, USA, onde a tecnologia e a arte são ubíquas, as turmas são pequenas (20), o currículo utiliza a história e a cultura como elementos integradores das várias áreas de forma melhorar a interdisciplinaridade, se tenta ir de encontro a vários estilos de aprendizagem através da diversidade de práticas e materiais, etc. Esta é uma escola que tenho de visitar.

Em Tensta senti-me bem, as cores eram agradáveis, os espaços amplos e confortáveis, a iluminação excelente, o ambiente calmo. Era uma escola multicultural e de alunos com famílias de low income, em que vi poucos suecos, e onde a tecnologia tinha uma papel bastante presente no dia a dia de todos. Cada aluno tinha um computador (cerca de 600), cada professor tinha um computador (cerca de 50), havia wifi em todas as áreas. Alguns dos registos que retirei, depois de uma reunião com o responsável ICT, Seth, e uma visita à escola:
  1. Biblioteca a ocupar o espaço central da escola com 11 portas
  2. Estufa a rodear a biblioteca com plantas, arbustos e árvores indoor (podia ler-se livros e apanhar bananas da bananeira)
  3. Salas pequenas para trabalho de pequenos grupos de alunos 8-12
  4. Zona de entrada nas salas em vidro
  5. Áreas da escola de acordo com vocações (tech, management, etc.), com espaços de trabalho para grupos interdisciplinares de professores
  6. Muitos espaços comunais, algumas com mezannine
  7. Cozinhas na sala de professores comum e 1 por área de escola
  8. Mentor de turma ao longo dos 3 anos
  9. Equipamento para conexão do tecto no laboratório de ciências
  10. Smartboards em algumas das salas
  11. Charger rooms (lockers) para laptops
Falei com alguns professores, de História, Física, Gestão e ainda com um aluno e a impressão que me ficou foi que o uso dos laptops em contexto educativo ainda é muito limitado: processador de texto, apresentações, folhas de cálculo, alguns applets e pouco mais. Um problema sério, um investimento tão alto e um uso tão limitado. Não consegui assistir a nenhuma aula porque tinha voo logo a seguir para o UK. E mesmo que pudesse, havia o problema da língua.

Gostei bastante de Estocolmo mas fiquei só duas noites, tempo para uma reunião na KTH e uma visita a escola. Conheci também o Anders Ambrén, do Learning Lab do KTH, que me falou dos projectos de learning spaces da KTH, fiquei de contactá-lo para ele fazer a ligação com o investigador responsável.
Agora sigo para o UK.

10.18.2007

UOC UNESCO Chair in Elearning Fourth International Seminar - Web 2.0 and education


Estou agora em Barcelona, no seminário organizado pela UOC, desta vez sobre Web 2.0 e Educação. O ano passado também estive cá, no sobre Open Educational Resources e o nível do seminário mantem-se, alto como o primeiro.

Já se falou de wikis, blogs, agregação, direitos de autor, micro-blogging, social networking, mashup, mundos virtuais e mais do que isso, o que fazer com estas ferramentas, que contextos criar para que sejam úteis do ponto de vista educativo.

Deixo aqui algumas notas que tirei dos vários discursos até agora (Phil Long do MIT, Juan Freire da Uni. Coruña, Larry Johnson do NMC Consortium, Graham Atwell da Pontydysgu, Ambjorn Naeve do KTH e Brian Lamb da Uni. de British Columbia), e quando tiver mais tempo, escrevo algo mais estruturado:

Phil Long
Deu um panorama geral da web 2.0, fazendo a introdução do tema no seminário. Mostrou algumas ferramentas, assim como alguns dos projectos do MIT que tiram mais valia da rede, como é o caso dos laboratórios remotos, iLabs, do projecto CSAIL, que recorrendo a inteligência artificial traduz para texto os discursos de professores MIT a partir dos vídeos (cerca de 80% é traduzido, ficando o restante para uma rede de alunos que podem corrigir, comentar e pesquisar termos utilizados pelo professor p.e. durante o seu discurso)

  1. iSpot http://ispots.mit.edu/ - permite visualizar o uso da rede e associá-lo a espaços no MIT, de forma a compreender quais os que os alunos preferem para trabalhar fora da sala de aula
  2. iFind http://ifind.mit.edu/ - uma forma de saber a localização da rede social no campus do MIT
  3. Zotero http://www.zotero.org/ - para gerir e citar fontes de pesquisa
  4. Twitter http://twitter.com/ - ferramenta de micro-blogging, para enviar mensagens de texto (do telemóvel ou laptop) para um "blog", que pode ser alimentado por uma rede social. É possível também receber as mensagens dessa rede no telemóvel. Pode ser útil para Q&A, publicação de resumos, diários, ideias-chave num evento, sempre de forma rápida.
  5. Thumblr http://www.tumblr.com/ - outra ferramenta de micro-blogging
  6. Dodge ball http://www.dodgeball.com/ - uma rede social que pretende ser alargada por encontros presenciais através da localização dos membros
  7. Tiny URL http://www.tiny.cc/ - uma forma simples de reduzir tamanhos de endereços web longos
  8. National Center for Academic Transformation http://center.rpi.edu/ - not-for-profit dedicada ao uso efectivo das TIC e à redução de custos daí inerente para o ensino superior
  9. Ed tags http://www.edtags.org - Projecto de social bookmarking da GSCE de Harvard, de Chris Dede, que já mo tinha mostrado o mês passado

A apresentação:


Juan Freire
Falou dos desafios institucionais para a implementação do uso da web 2.0. Referiu também a experiência não tão bem sucedida da Nature na implementação de um open peer review e duas ferramentas, Scintilla e Connotea, ligadas às referências bibliográficas. Um dos vídeos interessantes que mostrou, para além do já conhecido the Web is Us/ing Us, foi o A Vision of Students today, feito na Kansas City University por Michael Wesch, com a colaboração de 200 alunos da universidade:



Larry Johnson

Director da not-for-profit NMC (New Media Consortium), falou essencialmente do Second Life, embora o papel educativo da ferramenta não tenha ficado explícito. O NMC tem-se focado na construção de espaços no SL, sejam um hospital no Reino Unido, seja o próprio espaço da organização, onde foi feito o streaming da sessão no anfiteatro. O que considero neste momento mais limitativo, pelo menos para o ensino de ciências, é o facto de o utilizador só poder construir se tiver terra. O modelo de negócio do serviço é baseado na propriedade, e desse modo as possibilidades são limitadas para os não proprietários (o povo da era digital?). Esta apresentação fez-me pensar em várias possibilidades para este tipo de ferramentas, principalmente se forem open source! (p.e. http://opensimulator.org, https://lg3d-wonderland.dev.java.net/, http://mediagrid.org/, http://immersiveeducation.org/):
  1. a simulação social - ex.: situações de sala de aula típicas recriadas e sendo base de discussão (uma videoscopia virtual), a simulação de uma comunidade com personagens de vários planetas (que agem de acordo com um conjunto de especificações), uma espécie de sims (o jogo), big brother, ditadura, etc.
  2. a simulação económica - ex.: analisar sistema de trocas entre uma comunidade
  3. a comunicação entre pessoas de vários países - ex.: espaço etwinning
  4. a recriação do mundo pela modelação- ex.: abordando-o do ponto de vista da biologia, geologia, ordenamento do território, design, recriando espécies, evolução, terrenos e tectónica, cidades, objectos...
  5. as visitas virtuais (o conceito do google earth + sketchup estendido, uma vez que podemos ter guias em carne e osso digital que falam!) - ex.: centro ciência viva virtual, museus virtuais, visitas a espaços geralmente restritos ao público em geral, desde o gabinete da ministra com avatar incluído, aos poços de petróleo do Irão), a espaços de outras épocas...
  6. a manipulação de ferramentas complexas e/ou caras, pouco disponíveis para o público em geral - ex.: centrais de energia nuclear, mecânica de ferraris, etc.
Encontrei agora um site que refere os top 20 educational locations no SL. O que passa no mainstream dos usos do SL na educação (poucos, e se falarmos de aprendizagem, nenhuns) ainda não me surpreenderam, estando a acontecer o habitual, a absorção pelo sistema das inovações, recriando o paradigma anterior, seja o foco excessivo no conteúdo, seja assistir a vídeos em anfiteatros virtuais, seja a visita a espaços, a lecture no anfiteatro, a interacção mínima entre os utilizadores e o espaço. Acredito que através da abertura das ferramentas de criação a todos, alterando o foco para a recriação de mundos, se poderá ajudar a concretizar o potencial educativo desta ferramenta. Por enquanto, é um mundo para as grandes construtoras, empresas de conteúdos e bancos vingarem (nada de novo sob o sol). Veja-se http://sleducation.wikispaces.com/educationaluses para mais ideias interessantes, acabei de o encontrar e finalmente vejo exemplos que podem ser "educativos".

Graham Atwell

Graham esteve no elearning Lisboa, não calhou assistir à sessão. O conceito do qual mais falou foi o PLE, Personal Learning Environment, um espaço online que combina o e-portfolio, a rede social, o sistema operativo da web e respectivas aplicações web2.0. Ainda é só uma ideia, mas já se veêm alguns conceitos parciais a emergir, seja a barra lateral e as funcionalidades do Facebook, seja o Elgg, o webOS, o LinkedIn, o PageFlakes, IGoogle, Google Docs e restantes aplicativos e semelhantes, . Parece-me que é a teoria unificadora deste mundo.
Aqui fica um link para um artigo escrito por ele, um artigo sociológico sobre a web2.0 de David Beer e Roger Burrows, para os sociológos que quiserem mudar de ramo, e algumas das suas apresentações no slideshare.

Ambjorn Naeve

Foi uma apresentação excelente que me fez pensar bastante. Foram claro mais as perguntas que as respostas que ficaram. Infelizmente para a semana não o vou encontrar no KTH em Estocolmo, onde tenho uma reunião do projecto DICSIM. Ambjorn é matemático, já foi hippie (confessado ao jantar), e sugiro que quando o vídeo da sua reflexão em voz alta estiver disponível (a UOC irá tratar disso) o vejam. Algumas das coisas que registei:

  1. There is a strong need of long term attention span.
  2. A good teacher can inspire you to learn.
  3. The emulation of knowing

7 different knowledge roles in Knowledge Management:
  1. Cartographer (constructs context maps)
  2. Librarian (fills context maps with content components)
  3. Composer (combines content components into learning modules)
  4. Coach (cultivates questions)
  5. Preacher (provides live answers)
  6. Plummer (connects questions to relevant preachers)
  7. Mentor (provides motivation and supports self reflection)
  8. +1 Performer

Não consegui apontar muitas coisas porque o discurso dele foi muito rico e não aguentei o multi-tasking.

Ficam também algumas questões levantadas por ele:

  1. Given the pace of automatization in today's knowledge economy, where is the place of the average student in the workplace of tomorrow?
  2. How can we counteract knowledge emulation and encourage intellectual curiosity and joy of exploration within the educational systems
  3. How can we make visible and encourage the crucial work of curating the knowledge volume within higher educational institutions, where presently only penetrating the knowledge surface counts?
  4. How can we counteract edutainment (easy fun) and promote the hard fun that leads to stories (=knowledge) with higher redundancy?
  5. How can we counteract the increasing tendency to regard the students as customers of the education systems, which builds a pressure to adjust the product to optimize customer satisfaction?
  6. How can we foster double loop learning for sustainability within our higher education institutions ie, that help to reorient our global education culture for building a sustainable future together?
Uma leitura sugerida, de Chris Argyris, Teaching smart people how to learn.
E o software de construção de mapas de contextos, Conzilla (complementando os mapas de conceitos) e de portfolios.

Brian Lamb

Brian, do Canadá, trabalhou com David Wiley, e falou de várias coisas, mas especialmente de conteúdos. A sua apresentação sugere imensas leituras, pelo que não as refiro aqui, a não ser a de David Wiley, Openness, localization and the future of learning objects, o qual ouvi cá o ano passado e que é um orador excelente e tem um trabalho muito importante na área do Open Content.

Foram também várias as referências mostradas:

  1. EduSource Canada - fonte de objectos de aprendizagem
  2. Google coop custom search http://google.com/coop/cse - Permite fazer pesquisas em sites restritos. Lembrei-me logo dos webquests e da possibilidade de se aplicar esta ferramenta.
  3. http://opencontentdiy.wordpress.com - com receitas e estratégias para criar open educational resources websites
  4. Stephen Downes - http://www.downes.ca/ - também do Canadá, dedica-se à área do Open Content
  5. Blog de Brian Lamb - http://weblogs.elearning.ubc.ca/brian
  6. Ocw in Motion http://www.ocwinmotion.com/ - facilita a reutilização de páginas de OCW, importando-as para um wiki e permitindo a utilização
  7. Fifty tools for story telling http://cogdogroo.wikispaces.com/StoryTools
  8. Yahoo pipes, qedwiki, google mashup editor, popfly - a tendência para tornar as pessoas as criadoras das suas próprias aplicações (referidas por Brian como disposable apps)
  9. Artigo da Educause: Social Networking Technologies: A "Poke" for campus services
  10. Send2Wiki http://send2wiki.com - permite enviar uma página web para um wiki para a editar facilmente
  11. Projecto Mocsl http://cosl.usu.edu/projects/mocsl - conjunto de pequenas ferramentas para facilitar o uso de recursos educativos abertos
  12. Grease Monkey http://diveintogreasemonkey.org/ - extensão do firefox que permite alterar e melhorar para o utilizador a aparência de uma página
  13. Feed 2 JavaScript http://www.feed2js.org - converte RSS para Javascript tal como o nome indica, facilitando a actualização de uma página acedida via RSS e adaptada no estilo ao website onde está colocada.
  14. XFruits http://www.xfruits.com - permite converter diversos tipos de formatos uns nos outros (RSS para PDF, para OPML, voz, etc.)
  15. Skreemr http://www.skreemr.com - motor de busca de mp3 na net, com player embedded.
Fico-me aqui pelo resumo. Demorei mais do que esperava!