6.22.2008

Ser professor em Inglaterra VI

No passado domingo a Eva e a Lurdes foram "entrevistadas" na RDP internacional. Não consegui gravar a emissão, mas neste Domingo tive sorte, e deixo aqui a conversa com a Núria e a Joana no programa Abraço de Domingo em mp3 (cerca de 12 MB).

6.16.2008

Casa da Música, Porto

Aqui deixo algumas fotos que tirei da Casa da Música quando fui visitar a Escola Rodrigues de Freitas no Porto.

6.06.2008

Análise prospectiva - educação em 2020

Deixo partes de um exercício de prospectiva que fiz há 2 anos e que encontrei por acaso nas minhas notas. Usei-o numa discussão de fórum no mestrado da católica, disciplina Internet e Educação. Uma visão para a educação até 2020, incompleta porque o tempo é pouco e a complexidade da análise imensa. Susceptível de muita discussão, espero, deverá ser lida com as devidas reservas. Tentei abordar algumas áreas relacionadas com a escola.

O espaço
  • O espaço sala mudará dos "palcos" para o openspace
  • O dentro e fora da escola deixarão de fazer sentido
  • A escola tornar-se-á mais móvel
O tempo
  • A incapacidade para lidar com complexidade e a incerteza será limitação maior que a do tempo.
  • Os horários deixarão de ser do tipo "folha de cálculo", deslocalizando-se para gantt charts e não estando tão baseadas em temas curriculares e mais em projectos
O currículo
O conceito de Open curriculum crescerá. O currículo nacional será um wiki. E o curriculum geral, integrando aspectos emocionais e espirituais, será desdobrado a vários níveis

As estratégias de ensino-aprendizagem
Em vez do aluno como tendo o papel central, serão as ideias e a sua concretização que tomarão o centro. O empreendedorismo colectivo (professores e alunos) e os projectos tomarão conta da escola e definirão os contextos de aprendizagem. As estratégias de ensino-aprendizagem incluirão lições da estratégia de guerra, comercial e de organizações.

Os saberes chave
Adicionandos aos saberes de Delors os 7 saberes de Morin e a espiritualidade. A memória e a inteligência formal são complementadas cada vez melhor pelas tecnologias. Um revivalismo do memex? Mind extension?

A avaliação
  • Numa cultura transparente, todos terão acesso às notas e trabalhos de alunos. Câmaras de vídeo nas aulas serão ubíquas, permitindo uma videoscopia regular do professor.
  • Os LMS terão um papel fundamental na publicação dos trabalhos para avaliação, e mesmo das notas. Portfolios e recomendações serão norma comum.
  • Sistemas de agregação de dados de avaliação permitirão estatísticas no momento a vários níveis de organização (escola, agrupamento, região, nação)
  • Os alunos avaliarão o professor de forma sistemática.
  • Os alunos avaliarão os colegas.
  • Os professores avaliarão os professores.
As tecnologias na escola
  • Os computadores ligados serão ubíquos, tal como os cadernos e lápis o são agora
  • O computador parecerá um moleskine, integrando gadgets tal como o telemóvel o tem feito. O conceito de tablet tornar-se-á mainstream
  • O software livre e opensource será obrigatório nos computadores da escola
  • Os smartboards serão o substituto natural do quadro preto
A internet na escola e a escola na Internet
  • O acesso livre e sem fios será padrão. Os LMS também.
  • Professores e alunos ajudarão a construir a web todos os dias
  • A colaboração e gestão de projecto usarão a rede para maximizar recursos.
  • Os repositórios de conteúdos multimédia serão abertos para a escola
A relação professor-aluno
Baseada na colaboração e no reconhecimento de hierarquia pelo mérito. Relação mais próxima, baseada em tutoria.

Alguns números da educação em Portugal

No geral dados de 06/07, alguns dados arredondados. Retirado de INE, GEPE, OE, Parque Escolar e OECD.
  • Total de professores do 3.º ciclo e secundário - 82000
  • Mulheres – 58000
  • Com mestrado/doutoramento – 4200
  • Com licenciatura ou equiparação – 88.5%
  • Com funções não lectivas – 3,5% (2900)
  • Quadro – 82%
  • Contratados – 18%
  • Relação aluno/docente – 8.2
Distrib por idades de professores do 3.º ciclo e secundário

  • 22,5% acima dos 50 anos
  • 33,8% entre 40-49 anos
  • 33.7% entre 30-39 anos
  • <30>
Indice de envelhecimento de professores do 3.º ciclo e secundário
  • Continente – 88.5
  • Lisboa – 154.6
  • Alentejo – 49.9
Distribuição de alunos por modalidade de ensino (cientifico-humanisticos vs tecnicos/tecnologicos) - 24000 vs 65000

Professores de ciências do 3.º ciclo e secundário
  • cerca de 13350
  • cerca de 50-50 f-q e bio-geo
Pop. jovem com 18 anos - cerca de 150 mil

Distribuição de alunos pelo ensino básico e secundário
  • 1.150.000 de alunos no ensino básico
  • 350 mil no secundário
Parque escolar com ensino secundário - 457
Taxa de conclusão do ensino secundário - 68%
Orçamento Min Edu. 07 - 5.813.615.814€
Iniciativa de modernização do parque escolar 2007-2015 - 1.000.000.000€
Alunos por computador - 10

População que atingiu upper secondary education
25-34 anos - cerca de 40%
45-54 anos - cerca de 20%

Upper secondary graduation rates
2005 - 53%
1995 - 68%

Gasto anual por aluno no ensino secundário
6000 USD

Gasto anual em instituições de ensino em relação ao GDP (primária, básico e secundário)
3.5%

6.04.2008

Ser professor em Inglaterra V


Refiz hoje o poster de divulgação da página P-export para poder ser impresso e afixado. É vectorial por isso pode ser impresso sem limites de tamanho e a preto e branco fica aceitável. Peço a todos que contactem com professores desempregados que o imprimam e divulguem!

6.02.2008

Re: Why don't you like Science?

Deixo aqui a resposta que dei ao post da Joana, Why don't you like Science? no novo blog dela, Educação ABC:

"Oi Joana,

isto de verdades e realidades é uma chatice de definir. Por isso é q a ciência optou pelas teorias e modelos, ao contrário da religião, que optou pelos dogmas e descrições inalteráveis. A religião está errada e a ciência está certa? Que eu saiba, a procura da verdade tem vários instrumentos: a experiência, o reasoning e a investigação. Não vejo porque a religião tenha de estar sempre errada ou a ciência sempre certa, ambas têm acesso aos mesmos instrumentos e usam-nos. Conheço religiões interessantes, já ouvi falar de ciência manhosa, e aqui, tal como nos computadores, faz sentido distinguir o que é inerente do que é imposto a estes extremos do espectro. Bom e mau não me parecem inerentes a nenhum deles.

Ainda hj estive a ler sobre o valor do diálogo na criação de significado, especialmente se estão em jogo duas perspectivas diferentes. A diferença como generativa de significado não exclui uma abordagem monológica, senão andávamos sempre a discutir extrmos e não tomávamos decisões, e lá voltávamos ao relativismo romântico mais uma vez ou ao eduquês que tanto valoriza o processo e se esquece do conteúdo. Mas é um sinal de algo que não pode ser esquecido: podes tirar valor das diferenças e esse valor pode ser bem maior do que se só considerares um ponto de vista.

É também curioso que a física quântica parece estar a colocar as mesmas hipóteses colocadas por algumas religiões com mais de 2500 anos (o livro Nós, a partícula e o Universo do Basarab Nicolescu entre outros fala nisso), que não tiveram acesso aos biliões de dólares necessários para construir os super aceleradores (o do CERN está quase pronto).

Voltando à questão do teu post, Why don't you like Science?, acho que é fácil perceber porque é que um miúdo não gosta. Aulas sem ligação à vida real, hands-on sem reflexão sobre a tarefa, aulas expositivas, fracas razões dadas aos miúdos quanto ao valor da ciência. A questão que deriva desta, e à qual tentaste tentaste responder com o argumento da curiosidade, Why should you like science?, acho que é uma pergunta fundamental e cuja resposta que deste não é suficiente. E o resultado é o que tens visto, os putos não ligam. às vezes há um ou outro mais curioso que talvez diga que sim, que faz sentido na altura e depois 5 minutos depois esquece.

Uma explicação convincente para explicar às criancinhas porque é a ciência importante é um problema, e podes pegar no caso de várias formas: tens o argumento tecnológico, tens o argumento da curiosidade, tens o argumento do aperfeiçoamento, tens o argumento do equilíbrio que a ciência traz a religiões que preferem cordeirinhos que duvidam pouco. E falo de uma ciência humanista que é utilitária ok, mas que também liga as pessoas, e cujo processo de auto-regulação se baseia no diálogo, aberto a todos (o peer-reviewing, as discussões públicas). E não falo só das ciências físicas, mas de uma ideia mais abrangente, de conhecimento e saber como viste na definição do dicionário.

Assim, aqui vai uma proposta de resposta, concreta: Para já a pergunta está mal feita. Prefiro a "Porque é que achamos que deves aprender ciência?" como se fosse primeiro, uma razão surgida dos erros civilizacionais graves que fizémos e que custaram caro a homens, mulheres, crianças, outros seres vivos e à Terra nestes séculos e séculos de Humanidade.

Possível resposta: Porque antes de tudo, a ciência nos mostra que devemos duvidar das aparências e a não fazer juízos rápidos, principalmente se não tivermos factos. Aqui há uns tempos queimavam-se pessoas, principalmente mulheres, só porque alguém lançava um boato que eram bruxas. Sem factos, sem nada. Aqui há uns tempos, matavam-se judeus e escravizavam-se africanos e índios porque se dizia, novamente sem factos, que eram seres inferiores ao homem branco. A ciência julga devagar, é persistente na procura de respostas e valoriza a dúvida como abordagem inicial a uma teoria proposta. E apesar do Hitler ser recente e se tentar basear em pseudo-ciência para provar a inferioridade dos judeus, ou de o Watson que descobriu (descobriu mesmo?) o DNA afirmar que os negros têm um dna inferior, O argumento da justiça acho que é mais facilmente apreendido pelos miúdos pelo menos para começar ;)

A história de como a teoria de a Terra girar em torno do Sol foi confrontada, esta resposta espectacular e contra todo o senso comum e fascinante blabla, e o facto de Galileu ter desafiado a Igreja e baixado a bola e aqui há tempos a Igreja ter pedido desculpa acho que não pega tão bem ao início. Ou a ciência como satisfação de uma curiosidade. Os putos são curiosos, exploram o mundo e constroem os seus modelos da realidade. Falares na Ciência como tendo um método melhor do que o eles para satisfazer a sua curiosidade (e ainda para mais um método complexo com instrumentos esquisitos em que tens de estudar muitos anos e que pode demorar anos ou séculos a obter respostas) para começar não resulta.

Esta resposta macro talvez resulte, se quiseres tentar, dp diz-me como correu. Depois de insistires nesta, e dialogares com eles sobre isso, e contrapuseres pontos de vista diferentes, talvez os míúdos comecem a pensar no valor de outras coisas, tais como a beleza, o amor, a verdade, a persistência, as relações ou a vida. A ciência pode ajudar a tirar dúvidas e a tornar o caminho mais confortável. Com abusos, claro, nesta espécie que parece que tem tirado mais do que dá. Mas mais do que isso, a Ciência traz a dúvida e assume a incerteza como valor primordial, nas teorias que podem sempre mudar e evoluir. E isto, para as visões tradicionalistas e conservadoras, pode ser uma chatice.

PS: Há um artigo de Jonathan Osborne sobre a literacia científica, falácias associadas e razões para a Ciência fazer parte do currículo, para o qual deixo aqui o link. Ele reflecte sobre isso melhor do que todos nós ;)"

Ser professor em Inglaterra IV

Saiu no sábado passado um artigo sobre professores emigrantes, para o qual deixo aqui o link.

Atenção só a uma coisa, o texto tem várias gralhas, estes jornalistas pelos vistos já não são o que eram, parecem alguns políticos a evidenciar números, ainda por cima errados. "ordenados de 2800 euros" a letras gordas, é menos, 1800-2000 dependendo do câmbio e dos anos de serviço e currículo; incentivos são 3000 e poucas libras, e não as 5000 referidas (pq são taxáveis); e horas de trabalho são bem mais de 23... 40 na escola fora os extras. Ao menos referiram que os putos são complicados pq nem tudo são rosas e isto por aqui não é o el dorado ;) Acho que é importante que as pessoas tenham essa noção ao considerarem vir para cá, que não é tudo fácil. É uma hipótese bem interessante em termos profissionais e monetários, ponto. Experiência de vida também. Mas cuidado com as expectativas altas ou o excesso de confiança. Como em qq decisão na vida ;)

Não se esqueçam, divulguem a página http://ruby.dcsa.fct.unl.pt/moodle/course/view.php?id=212 sempre que puderem, há muitos colegas desempregados por aí...